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O Surgimento do Nazismo: Análise Histórica e Psicanalítica da Pseudociência a Favor do Fascismo

Índice do Conteúdo

O nazismo foi um movimento político e ideológico (derivado do Fascismo) que emergiu na Alemanha no século XX, impulsionado por crises sociais, econômicas e políticas. Antes do surgimento do Terceiro Reich, já existiam políticas eugenistas e racistas na Alemanha, além de outras partes da Europa e do mundo. Essas ideias foram radicalizadas e implementadas pelo regime nazista, estando presentes na sociedade e na academia alemã desde o final do século XIX e início do século XX. Esse artigo explora esses antecedentes históricos, relacionando-os com análises psicanalíticas e com o impacto do fascismo e da pseudociência na sociedade.

 

 

Movimento Eugenista na Alemanha

O movimento eugenista alemão, desenvolvido no final do século XIX, foi fortemente influenciado pelo darwinismo social e pela “higiene racial”. A eugenia era amplamente vista como uma “ciência” que buscava “melhorar” a raça humana, promovendo práticas como esterilização e controle de natalidade para eliminar supostas “fraquezas” genéticas. A Sociedade Alemã de Higiene Racial, fundada por Alfred Ploetz em 1905, desempenhou um papel central ao popularizar essas ideias, que mais tarde se tornaram base para as políticas nazistas.
A eugenia é um exemplo claro de pseudociência usada para justificar práticas desumanas sob uma roupagem de “ciência legítima”. Ao categorizar pessoas com base em características biológicas e raciais supostamente inferiores, o movimento eugenista alemão fortaleceu as bases ideológicas do fascismo, que utilizava essas “evidências” para justificar a opressão e a exclusão social de grupos marginalizados.

 

Fascismo, Antissemitismo e Preconceito Racial

O fascismo, uma ideologia que se desenvolveu na Europa no início do século XX, valorizava a autoridade, a hierarquia e a purificação racial. Na Alemanha, a propaganda antijudaica e a retórica do Partido Nazista se basearam fortemente na pseudociência e em teorias raciais já presentes no final do século XIX. O livro Os Fundamentos do Século XIX, de Houston Stewart Chamberlain, foi influente ao defender a superioridade racial ariana e a inferioridade dos judeus, conceitos que o nazismo utilizou para legitimar suas políticas de
exclusão e extermínio.
O antissemitismo era uma realidade na sociedade alemã muito antes da ascensão de Hitler. No final do século XIX e início do século XX, existia uma intensa propaganda antijudaica na Europa, que propagava teorias conspiratórias sobre o controle judaico da economia e da política mundial. Na Alemanha, o livro Os Fundamentos do Século XIX (Die Grundlagen desneunzehnten Jahrhunderts), escrito por Houston Stewart Chamberlain em 1899, defendia a superioridade racial ariana e a inferioridade dos judeus, conceitos que mais tarde foram
absorvidos e radicalizados pelo Partido Nazista.
Práticas Discriminatórias na República de Weimar Durante a República de Weimar (1919-1933), movimentos e grupos que promoviam racismo e eugenia já estavam presentes, mesmo com a constituição democrática garantindo direitos iguais aos cidadãos. Houve pressão de grupos nacionalistas para implementar políticas que favorecessem os “alemães puros”. No campo da saúde pública, práticas de esterilização
compulsória para pessoas consideradas “degeneradas” ou “mentalmente deficientes” eram comuns. Essas ideias foram amplamente aceitas por universidades e instituições científicas, criando uma base para as políticas agressivas do nazismo.

 

Influência Internacional e a Disseminação da Eugenia

As ideias eugenistas não eram exclusivas da Alemanha; eram amplamente compartilhadas
por cientistas e políticos na Europa e nos Estados Unidos. Por exemplo, as primeiras leis de
esterilização compulsória foram implementadas nos EUA, e cientistas americanos
colaboravam com seus colegas alemães. O Congresso Internacional de Eugenia, realizado
pela primeira vez em Londres em 1912, contou com a participação de alemães que
defendiam práticas de “melhoria racial” através de seleção genética, legitimando e
solidificando essas ideias no pensamento científico da época.

Eugenia e o Levante Global do Racismo

As motivações patológicas por trás da eugenia, impulsionadas por teóricos influentes como Francis Galton e Houston Stewart Chamberlain, não só legitimaram a segregação racial na Alemanha como também influenciaram práticas ao redor do mundo, como o Apartheid na África do Sul e outras políticas racistas nos Estados Unidos e na Europa. Esses regimes usaram a ideia de “pureza racial” como justificativa para segregar, controlar e oprimir populações inteiras. Esses movimentos globais, baseados em uma suposta ciência racial, contribuíram para a institucionalização de sistemas de opressão e exclusão.
Essa visão racista e eugenista também fortaleceu o movimento psiquiátrico manicomial, que encontrou justificativa para intervenções extremas baseadas em critérios raciais e de adequação moral. A psiquiatria intervencionista ganhou força, promovendo internações e
tratamentos invasivos que frequentemente não eram adequados aos pacientes e se baseavam em uma visão distorcida e pseudocientífica da saúde mental.
Durante a República de Weimar e o período nazista, práticas de internação e esterilização compulsória para pessoas consideradas “degeneradas” ou “mentalmente doentes” foram legitimadas como medidas de higiene racial.
A psiquiatria, sob a influência do fascismo e da eugenia, usou seu poder para controlar e silenciar pessoas que desafiavam ou não se conformavam às normas vigentes, tratando-as como “ameaças” à pureza racial e à moralidade nacional. Esse sistema, baseado em pseudociência, fortaleceu práticas que violaram direitos humanos, estabelecendo uma ligação direta entre o modelo manicomial e as políticas de exclusão racial e social.
Tal impacto é global e afetou inclusive o Brasil, que diante de uma ditadura encontrou justificada a atividade do Hospital Colônia de Barbacena, que encerrou sua última ala em 1994, em um passado não muito distante.

Perspectiva Psicanalítica: Entendendo as Motivações Patológicas da Xenofobia e do Racismo

A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, oferece uma visão profunda sobre as motivações psíquicas por trás dessas ideologias. O conceito de narcisismo coletivo é essencial para compreender a ideologia nazista como uma manifestação patológica da psique coletiva. Freud sugere que, em tempos de crise, grupos buscam afirmar sua superioridade e autossuficiência, canalizando pulsões agressivas contra grupos externos, como os judeus. O narcisismo das pequenas diferenças, descrito por Freud, explica a hostilidade direcionada a minorias, mesmo quando as diferenças culturais são superficiais.
Carl Jung, por outro lado, analisou como arquétipos e símbolos do inconsciente coletivo podem ser manipulados por líderes carismáticos. Ele argumentou que figuras simbólicas, como o “herói” e o “inimigo”, são usadas para mobilizar massas e justificar práticas de exclusão e dominação. No contexto do nazismo, esses arquétipos foram habilmente explorados para criar uma narrativa de superioridade racial e purificação.
Em última instância é interessante validar que perversões como psicopatia e problemas sociológicos de cunho moral e distorção do caráter, como no caso dos sociopatas encontram terreno fértil em cenários de crise, onde a necessidade de projetar a imagem paterna de um líder forte se faz necessária como esperança de superar momentos difíceis.
Tais psicopatas (assim como outras pessoas com personalidade estruturada em perversão) tem em sua essência uma característica sedutora na personalidade que é capaz de persuadir pessoas a tomarem seu partido, ainda que suas opiniões sejam infames e dotadas das mais polêmicas contradições.

Considerações Finais

Do ponto de vista psicanalítico, a visão eugenista e a necessidade de dominação são formas patológicas de lidar com inseguranças e sentimentos de inferioridade coletiva, que diante de pessoas mal intencionadas ou com estrutura perversa dominante são utilizadas
como instrumento de viabilização do fascismo.
O surgimento do nazismo foi, assim, uma resposta distorcida e violenta a uma crise profunda, onde a psique coletiva projetou suas angústias em grupos considerados “inferiores” para justificar políticas extremas norteadas por líderes perversos. Essa combinação de fatores históricos e psicanalíticos revela como contextos de crise podem ser manipulados para criar movimentos autoritários e genocidas.

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